RESENHA DO LIVRO:
A igreja, o país e o mundo. Desafios de uma fé engajada.
Autor: Robinson Cavalcanti
Editora: Ultimato
Robinson Cavalcante, autor do Livro: A igreja, o país e o mundo, objeto desta resenha, vem com a proposta de apontar os desvios e as oportunidades da igreja brasileira e mostrando as escolhas e as tendências na área política do Brasil nesta virada do século e do milênio. Tendo em vista que é uma época onde o desapontamento com as ideologias e as utopias seculares, o autor expõe em seu livro, a tarefa que os cristão têm de vivenciar uma fé madura e relevante para a atualidade.
Divido em dezoito capítulos bem estruturados de maneira profunda e direta, com temas correlacionados, onde vai levando o leitor a refletir na posição cristã diante de uma sociedade que tem como uma utopia a igualdade social, justiça e paz, etc., vem abordando tópicos referente: Os cristãos e o estado da igreja; evangelicalismo, cultura e julgamento; Os evangélicos e o projeto histórico e A espiritualidade na pós-modernidade, apesar de ser um livro de apenas cento e cinqüenta e cinco páginas, apresenta uma linguagem teológica porém não muito difícil de compreensão.
Através dos conceitos de koinonia (comunhão) e diaconia (serviço), o autor em seu primeiro capítulo começa a discorrer sobre a igreja e sua função, tendo a princípio um discurso reformado, criticando as formas mais renovadas ou diferentes de igrejas, mostrando um tradicionalismo a princípio radical.
Em alguns momentos apresenta um discurso que lembra a teologia liberal, porém, logo esta impressão é desfeita, pois no decorrer do livro, tanto o liberalismo, neoliberalismo e o fundamentalismo, são criticados com veemência, tanto que a linha teológica do autor não fica tão clara, apesar de não ser o intuito do autor em expressar qual linha segue, ele tenta expor de forma clara, através de exposição histórica como estas linhas se comportaram no decorrer da história política do Brasil.
Criticando de forma direta e indireta, desde a igreja anglicana, passando pelas igrejas reformadas: Luterana, Presbiterianas, caminhando pelas pentecostais e chegando até as neopentecostais, o autor dá maior importância aos defeitos destas linhas denominacionais, ficando assim uma pergunta: Na visão do autor, será que estas igrejas são tão ruins assim, ao ponto do cristianismo não ser expresso através delas? É de se estranhar, ao analisar somente um aspecto de algo, ressaltando seus defeitos, sem contrapor o “outro lado da balança”, pois, assim sendo, leva o leitor a uma informação tendenciosa para um lado específico: o do autor. Porém, o que foi abordo, foi de forma coerente e até sacártica.
Apesar de o autor defender a cultura como expressão de um povo, e que o cristianismo importa basicamente a cultura Européia e Americana, tendo em seu conceito que o cristianismo pode ser expresso de várias formas através da cultura local, desde que mantêm-se os princípios cristãos, parece uma contradição quando o mesmo, no capítulo anterior critica igrejas que utilizam justamente da cultura como forma de expressão e culto ao Deus Soberano.
A sua ponderação sobre a Teologia da Prosperidade, é altamente relevante, mostrando um mal que assola, no pondo de vista do resenhista, não apenas nas igrejas neopentecostais onde percebe-se com facilidade esta doutrina, mas invadindo vários segmentos religiosos, seja tradicionais históricos ou pentecostais, mesmo porque, diante de uma sociedade altamente capitalista, tem nesta forma de teologia como agradar as camadas extremas da sociedade, como o próprio autor do livro diz: “Paz interior aos ricos e motivação aos pobres que querem tornar-se ricos”, mais ou menos assim...
O pecado é tratado basicamente sob três aspectos: a) metafísico: hostes satânicas; b) individual: natureza caída do homem; c) estrutural: valores sociais distanciados dos valores do reino de Deus.
Esta forma de abordar o pecado, foi muito eficaz, pois, desmistifica e muito, pois a religiosidade contemporânea tende a atribuir tudo de ruim à Satanás, e amenizando a responsabilidade social e individual do homem com relação aos demais e a si próprio e com Deus.
Diz o autor: “Como seres humanos plenos, os cristãos assumem, de forma responsável, o exercício da cidadania. Isso implica em uma tomada de consciência, pelo conhecimento crítico da realidade que nos cerca e uma resposta conseqüente, pelo comprometimento com ideais superiores.” Isto implica que o cristão deva tomar consciência do Mandato Cultural, que apenas através do exercício de uma cidadania baseada em valores cristãos, onde além da espiritualidade o cidadão cristão, tome atitudes concretas para manifestar o evangelho, através dos valores do Reino de Deus, influenciando assim os demais segmentos da sociedade, ou seja, segmentos seculares, fazendo com que o cristão realmente seja “sal e luz do mundo”, tomando decisões que levem as atuais estruturas “caídas e mundanas”, a serem mais justas, honestas. Um exemplo é a estrutura política, pois falta à maioria dos partidos policio explicitação programática, clareza ideológica e compromisso de representação política, além da inorganicidade, pois só funcionam às vésperas das eleições, tendo um apoio nos meios de comunicação, principalmente, rádio e televisão, onde fazem a cabeça do povo, mistificando, alienando e anestesiando, onde é levado ao erro e a ignorância política em geral.
É interessante o que o autor aborda, quanto à igreja, pois nela seria um treinamento e orientação do povo de Deus, para os aspectos e dificuldades gerais da sociedade e não apenas com o discurso escatológico do além, da vida eterna etc., mas também de forma prática e concreta para influenciar todas as estruturas da sociedade, principalmente a política, pois dela, o poder terreno é emanado, através da coerção, influência, leis e muito mais, e tendo cristãos verdadeiramente convertidos, seria um campo prático de influenciar a sociedade com os valores do reino, e isto sim , seria o papel profético da Igreja para com o Estado.
Este livro é altamente recomendado principalmente para os cristãos que estão desapontados com a política e sistemas seculares, e conseqüentemente se abstém de exercer a sua cidadania, se escondendo atrás de uma religiosidade mística e sem responsabilidade social, deixando de influenciar e exercer o papel de ser “luz do mundo” e “sal da terra”, bem com para cristãos que vivem em uma teologia da prosperidade e estão cada vez mais materialistas e consumistas e não se importam com o que está à sua volta, e com os problemas do seu próximo, querem apenas enriquecer, enriquecer, ser “cabeça” e não “cauda”, quer poder, e mais poder, em vez de servir e servir.
Shalom Adonai.
Leumane Rabelo
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